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A Crise da Má Gestão Hídrica de Brasília

A Crise da Má Gestão Hídrica de Brasília
(06/06/2017)

As reportagens, principalmente da televisão, atribuem a responsabilidade do racionamento de água no DF à falta de chuvas e ao desperdício de água pela população.



Não mencionam que os grandes reservatórios existentes (Santa Maria e Descoberto) são os mesmos que existiam na década de 1970, quando o DF tinha uns 700 mil habitantes. Em 2017 tem quase 3 milhões.

Nenhum grande reservatório novo foi construído desde aquela época, além de Corumbá IV, em Luziânia, construído em 2006 pelo então governador Joaquim Roriz. Até hoje os governadores que o sucederam não deram sequer conta de instalar os canos para transportar a água para Brasília, há uns 60 quilômetros de distância.

Agora parece que o governo do DF acaba de “descobrir” mais uma represa construída na década de 1970 em Brasília e está correndo contra o tempo para captar água dela para reforçar o estoque de água armazenada. Trata-se do açude no Córrego Bananal, localizado nas proximidades da Granja do Torto.

Se o problema fosse só falta de chuvas, o Lago Paranoá também não estaria cheio, permitindo que o GDF faça captação de água dele.

Responsabilizar a falta de chuvas é uma grande safadeza, pois como pode ser visto no gráfico, o regime de chuvas no DF é de um período de uns quatro ou cinco anos de chuvas abundantes, seguidos de dois ou três anos de chuvas fracas. Em 2017 nem choveu tão pouco assim. Em maio de 2017 choveu 66% a mais do que a média prevista para o mês.



É quase como aquela história do sonho do Faraó, no qual viu sete anos de abundância, seguido por sete anos de escassez. O sábio Faraó determinou a José que providenciasse o armazenamento de alimentos durante os anos de abundância para serem consumidos nos anos de carestia.

Parece óbvio, não é? Mas os imprevidentes e incompetentes sucessivos governos do Distrito Federal não fizeram isso. Comportaram-se como cigarras, consumindo nos anos de abundância sem preocupar-se com os anos de escassez.

Pelos estudos da CAESB, a única forma de evitar o racionamento é o aumento significativo das chuvas e a redução do consumo pela população. Não há menção à criação de novos reservatórios ou em trazer água de reservatórios mais distantes, ignorando que a crise não é hídrica, mas sim apenas uma crise de má gestão hídricaIsso demonstra na prática as razões pelas quais estamos passamos pelo vexame do racionamento de água. 

Imagine se o Imperador Adriano, ao chamar seus engenheiros para resolver o problema da escassez de água em Roma, recebesse como resposta que a única solução seria “fazer mais sacrifícios aos deuses para que mandassem mais chuvas”.

Como o engenheiro sabia que Adriano não aceitaria esse tipo de resposta, e poderia até mandar mata-lo se a desse, fez planos para resolver o problema. 

Hoje vemos aqueles restos dos magníficos aquedutos com seus esplendidos arcos suplantando largos vales e de túneis atravessando montanhas rochosas, para trazer água de distancias superiores a 100 quilômetros.

Pelo jeito o governo do Distrito Federal vai preferir “fazer mais sacrifícios aos deuses para que mandem mais chuvas” do que encarar de frente o problema e fazer como os imperadores romanos fizeram.

A CAESB deve mandar seus engenheiros estudarem as soluções aplicadas pelos romanos há mais de dois mil anos e parar de envergonhar-nos com esses racionamentos desnecessários, além de deixarem de falarem essas besteiras de que não há solução sem maiores quantidades de chuvas.

Adriano e seus engenheiros morreriam de tanto rir se soubessem que mais de dois mil anos depois uns caipiras brasileiros estariam com dificuldades para construir represas e aquedutos.


                                                              Luigi B. Silvi


Contato: spacelad43@gmail.com
Twitter: @spacelad43



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